A princípio, falarei do primeiro a quem dedico este texto, postando aqui um pouco de sua trajetória e uma entrevista que saiu no Jornal do Brasil em 30/05/1982.
Raimundo de Lima Almeida, mais conhecido como Monsieur Limá, foi o primeiro grande DJ, VJ, experimentador da Black e da Disco Music do Brasil.
Nos anos 70, o DJ baixinho, com um vasto Black Power ruivo , e roupas extravagantes, apresentava bailes funk e hits com as frases: “Som na caixa!” e “Couro Come e Ninguém Vê”, nesta época as mixagens eram feitas em picapes de vinil e fita de rolo grande. O funk era muito diferente das épocas atuais, já que o mesmo era produto genuinamente americano, aliás, nesta época, o que se tocava nas rádios era só musica “importada”, era raro ouvir música brasileira, 80% da programação era gringa, vivíamos uma época de glamour total a cultura americana, quase não tínhamos identidade.
Limá foi um dos primeiros DJs brasileiros a ir para a televisão e com muita atitude ganhou fama com suas coletâneas de disco music. Ele apareceu em vários programas da extinta TV Tupi até ganhar seu próprio programa. Apesar de não ser um expert em mixagens ou viradas, Limá marcou pela ousadia e pela postura em frente ao público e à camera de TV.
Limá morreu cedo, em 1993, aos 50 anos.
Segue a entrevista:
É isso aí. O couro vai comer e a poeira vai subir. Bola pra frente que vem aí um balanço firme. Com vocês, Messiê Limá!
Um dos grandes nomes da discotecagem nos anos 70, era Monsieur Limá (pronunciava-se Messiê Limá). Limá foi um dos primeiros DJs brasileiros a ir para a televisão. Ele apareceu em vários programas da extinta TV Tupi até ganhar seu próprio programa.
Palmas, milhares de pessoas aplaudindo; gritos, apupos e um mar de corpos dançando com a música produzida por 20 equipes especialmente convidadas: luzes, muitas luzes piscando sem parar, realçando uma decoração bem original, cheia de cores. É assim que o discotecário Messiê Lima imagina a comemoração de seu milésimo show.
Dia 7 de agosto, no Maracanãzinho a festa vai ser uma loucura — diz ele. — Um reconhecimento pelo sucesso dos bailes que promovo, aonde nunca vão menos de 5 mil pessoas.
Maranhense. 36 anos 1.56cm de estatura, Messiê Lima tem uma legião de fãs conquistadas desde o inicio de sua carreira — foi discotecário da boate Sachinha’s e disc-jóquei da Radio Mundial, junto tom o falecido Big Boy.
Segundo ele, a fã do Messiê Lima esta preocupada com seu aspecto intelectual e não com o fato de ele ser feio ou bonito. Solteiro convicto, mas namorador, Messic Lima conta que tem dois carros: um Chevette para o dia-a-dia e um Galaxie só para desfilar com as gatas novas.
— No meu tempo de discotecário, lancei varias modass. A discoteca. A discoteca, baseada mo soul e no funk, fui eu que lancei em 1968 no Sachinha’s, essa época eu tinha um Simca Chambord todo bordado, com quatro antenas, uma placa que acendia e mostrava os dizeres “cuidado Limá” e uma sala de estar com bar para seis pessoas. Isso tudo foi antes de os Beatles lançarem aquele Rolls Royce psicodélico – afirma Messie Lima.
Comandando o programa Discomania há dois anos na TV Bandeirantes — era o Panorama Pop da extinta TV Tupi — Messiê Lima garante que a fórmula é infalível. Música jovem, informação sobre a noite carioca e notas sociais.
À coté, Merci beaucoup e S’il vous plait são expressões usadas por Messiê Lima. ou Raimundo de Lima Almeida, que escolheu o idioma francês por causa de urna namorada francesa que só lhe chamava de Limá. No radio, começou a usar a expressão Vous Écoutez Lima (vocês estão escutando Lima) mas os fas não entendiam. Passou a ser Monsieur Limá e agora, para se popularizar ainda mais, é Messiê Lima mesmo.
Com trinta minutos de programa, Messiê Lima fala de rock nas segundas, música romântica na quarta e funk e soul na sexta. Nos outros dias, é o que pintar porque, segundo ele, os cantores brasileiros não permitem que o filme seja transmitido depois do lançamento do disco.
— Eu jã estou acostumado com isso. mas a musica popular brasileira está me devendo muita coisa. Graças a mim ê que as equipes de som estão tocando música lenta brasileira na hora do sarrinho. A Sandra Sá, por exemplo: fui eu que escolhi a música Olhos Coloridos para estourar e ainda sugeri que mudassem o nome para Sarará Crioulo — destaca Messiè Lima.
— Mas você recebe dinheiro das gravadoras para fazer esses lançamentos? — pergunta a repórter
— Nem sempre- No caso de Ton-Ton Club. por exemplo, eu nào recebi nada. Mas fiquei com a gloria de tê-lo descoberto — conclui.